25 MAR 2021
No lançamento do projecto Desafio 2030, em Novembro passado, tive ocasião de referir que “a resolução do enigma da produtividade é sem dúvida um dos grandes desafios do século e a chave para a competitividade dos países. Ninguém terá dúvidas de que a inovação será a base da resolução de todo este enigma. Sem inovação e sem novas ideias o abrandamento da produtividade tornar-se-á estrutural com impactos extremamente nefastos na criação de emprego e no crescimento.”
Este não é um problema novo e foram há muito tempo identificadas as principais questões que têm levado a que, apesar de a nossa economia ser reconhecida como inovadora, os resultados da inovação em termos de produtividade e competitividade das nossas empresas tenham ficado aquém do desejável e do necessário.
Por exemplo, se olharmos o European Innovation Scoreboard (EIS), que fornece uma análise comparativa do desempenho da inovação nos Estados-Membros (EM) da União Europeia (UE), avaliando os pontos fortes e fracos dos sistemas nacionais de inovação, concluímos que os indicadores nacionais que reflectem a capacidade de difusão de conhecimento, como é o caso das patentes ou das publicações científicas em colaboração entre instituições públicas e privadas, estão ainda abaixo da média da UE, embora seja evidente uma evolução positiva na última década.
Por outro lado, de acordo com o Eco-innovation Index da Comissão Europeia, conclui-se que os pontos fracos de Portugal (abaixo da média UE28) são a disponibilidade de capital de risco privado, o investimento em I&D pelas empresas, o registo de patentes e a exportação de serviços intensivos em conhecimento.
Estes são alguns exemplos de circunstâncias que inequivocamente justificam a iniciativa da AEP de lançar este Desafio 2030, dirigido ao preenchimento das falhas que os indicadores referidos sugerem. Em particular, espera-se que esta iniciativa possa ser um impulso à cooperação e co-criação entre todos os “stakeholders/ actores de inovação” que podem contribuir para um surto de investimento e inovação, que permita por uma vez reduzir o “gap” de produtividade entre a economia portuguesa e as economias mais produtivas e competitivas da UE, que teima manter-se em valores inaceitáveis há décadas. Porque um objectivo como este não pode ser conseguido apenas por um grupo de agentes, mas por uma intensa e frutuosa interacção, relações de simbiose entre os sectores público, privado, empresas, universidades e sociedade civil. Esta é uma conclusão que resulta inequivocamente comprovada no estudo apresentado, ficando evidente que os casos mais bem sucedidos na UE assentaram precisamente em formas institucionalizadas de cooperação entre aqueles sectores e agentes.
Os resultados agora apresentados confirmam também amplamente e fundamentadamente os diagnósticos que têm vindo a ser feitos. Com a vantagem de serem agora identificados de forma sistemática os obstáculos e as boas práticas que em outras economias levaram à sua remoção. A comparação com os melhores, em lugar da tradicional comparação com a média, será certamente um caminho promissor.
O tema da inovação terá de ser colocado no topo da agenda das empresas portuguesas da próxima década. Como têm de o ser a qualidade da gestão e do governo das sociedades (que também são inovação), o da cooperação interempresarial e interinstitucional e o das políticas públicas “amigas” da concorrência e da produtividade. Porque para inovar não basta gastar mais em R&D. Isso será uma consequência de políticas e iniciativas empresariais e não um objectivo que por si só pouco representará. Mais do que o nível da despesa importa a sua eficiência e a sua eficácia, traduzidas no seu impacto económico, social e ambiental.
O “Desafio 2030” entra agora na sua fase decisiva: dar conteúdo prático e concreto às propostas que resultam das boas práticas identificadas e, por uma vez, congregar os esforços e as competências dos sectores público e privado no indispensável e urgente percurso de aproximação dos níveis de produtividade da economia portuguesa aos observados nas economias europeias mais competitivas.
Carlos Tavares, Presidente do Conselho de Administração do BEM – Banco Empresas Montepio