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A opinião de Carlos Tavares, Presidente do Conselho de Administração do Banco Empresas Montepio

25 MAR 2021

A opinião de Carlos Tavares, Presidente do Conselho de Administração do Banco Empresas Montepio

No lançamento do projecto Desafio 2030, em Novembro passado, tive ocasião de referir que “a resolução do enigma da produtividade é sem dúvida um dos grandes desafios do século e a chave para a competitividade dos países. Ninguém terá dúvidas de que a inovação será a base da resolução de todo este enigma. Sem inovação e sem novas ideias o abrandamento da produtividade tornar-se-á estrutural com impactos extremamente nefastos na criação de emprego e no crescimento.”

Este não é um problema novo e foram há muito tempo identificadas as principais questões que têm levado a que, apesar de a nossa economia ser reconhecida como inovadora, os resultados da inovação em termos de produtividade e competitividade das nossas empresas tenham ficado aquém do desejável e do necessário.

Por exemplo, se olharmos o European Innovation Scoreboard (EIS), que fornece uma análise comparativa do desempenho da inovação nos Estados-Membros (EM) da União Europeia (UE), avaliando os pontos fortes e fracos dos sistemas nacionais de inovação, concluímos que os indicadores nacionais que reflectem a capacidade de difusão de conhecimento, como é o caso das patentes ou das publicações científicas em colaboração entre instituições públicas e privadas, estão ainda abaixo da média da UE, embora seja evidente uma evolução positiva na última década.

Por outro lado, de acordo com o Eco-innovation Index da Comissão Europeia, conclui-se que os pontos fracos de Portugal (abaixo da média UE28) são a disponibilidade de capital de risco privado, o investimento em I&D pelas empresas, o registo de patentes e a exportação de serviços intensivos em conhecimento.

Estes são alguns exemplos de circunstâncias que inequivocamente justificam a iniciativa da AEP de lançar este Desafio 2030, dirigido ao preenchimento das falhas que os indicadores referidos sugerem. Em particular, espera-se que esta iniciativa possa ser um impulso à cooperação e co-criação entre todos os “stakeholders/ actores de inovação” que podem contribuir para um surto de investimento e inovação, que permita por uma vez reduzir o “gap” de produtividade entre a economia portuguesa e as economias mais produtivas e competitivas da UE, que teima manter-se em valores inaceitáveis há décadas. Porque um objectivo como este não pode ser conseguido apenas por um grupo de agentes, mas por uma intensa e frutuosa interacção, relações de simbiose entre os sectores público, privado, empresas, universidades e sociedade civil. Esta é uma conclusão que resulta inequivocamente comprovada no estudo apresentado, ficando evidente que os casos mais bem sucedidos na UE assentaram precisamente em formas institucionalizadas de cooperação entre aqueles sectores e agentes.

Os resultados agora apresentados confirmam também amplamente e fundamentadamente os diagnósticos que têm vindo a ser feitos. Com a vantagem de serem agora identificados de forma sistemática os obstáculos e as boas práticas que em outras economias levaram à sua remoção. A comparação com os melhores, em lugar da tradicional comparação com a média, será certamente um caminho promissor.  

O tema da inovação terá de ser colocado no topo da agenda das empresas portuguesas da próxima década. Como têm de o ser a qualidade da gestão e do governo das sociedades (que também são inovação), o da cooperação interempresarial e interinstitucional e o das políticas públicas “amigas” da concorrência e da produtividade. Porque para inovar não basta gastar mais em R&D. Isso será uma consequência de políticas e iniciativas empresariais e não um objectivo que por si só pouco representará. Mais do que o nível da despesa importa a sua eficiência e a sua eficácia, traduzidas no seu impacto económico, social e ambiental.

O “Desafio 2030” entra agora na sua fase decisiva: dar conteúdo prático e concreto às propostas que resultam das boas práticas identificadas e, por uma vez, congregar os esforços e as competências dos sectores público e privado no indispensável e urgente percurso de aproximação dos níveis de produtividade da economia portuguesa aos observados nas economias europeias mais competitivas.

Carlos Tavares, Presidente do Conselho de Administração do BEM – Banco Empresas Montepio

 

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